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terça-feira, 4 de agosto de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CXXXV)



Mítia:

Parece que foi ontem. Não foi, mas esses 28 anos passaram rápido. É uma felicidade ter acompanhado o teu crescimento como indivíduo, como empreendedor e, principalmente, como filho. Desastrosamente, estamos vivendo tempos estranhos e este ano não foi possível comemorar adequadamente o teu aniversário.

Lembro com bastante nitidez do dia 04 de agosto de 1992. Estava na Prefeitura quando tua mãe me telefonou, no final da tarde: Venha para a maternidade, nosso filho vai nascer. Abandonei tudo, peguei um táxi e consegui chegar a tempo de assistir o espetáculo na primeira fila. Foi tudo tranquilo – exceto no momento do teste de Apgar, que foi (para mim) traumático.

Alguns anos depois, precisamos nos separar. Tive que atravessar Santa Catarina e Rio Grande do Sul várias vezes para te ver. Esses encontros, marcados por almoços no Tio Hugo ou pizzas no jantar, eram uma alegria compensatória para todas as escolhas que fiz na vida. Duas vezes você esteve comigo, uma em Florianópolis e outra em Itapema.

Depois que essa tempestade passou, nós dois voltamos a morar na mesma cidade – embora em apartamentos diferentes. Recuperamos, na medida do possível, o tempo perdido com almoços no Laghos, sessões de cinema e revisões das matérias escolares. Foi nesse período em que ampliamos o afeto.

Precisamos nos separar outra vez quando você entrou na universidade. Enquanto teus amigos abraçaram a medicina, a engenharia, o direito, você optou pela magia. Para mim, que sou um desastre nas artes gastronômicas, cozinhar se parece com algo sobrenatural. Observo teus movimentos entre panelas, talheres, ingredientes, temperos e percebo o quanto você se sente feliz diante do fogão.

Fui te visitar várias vezes em Balneário Camboriú. Nunca esqueci o sabor dos sorvetes artesanais italianos e daquela sobremesa de maçã (que você nunca mais fez). Fomos várias vezes ao cinema naquele shopping longe, mas não consigo lembrar quais foram os filmes. Também assistimos juntos, num domingo pela manhã, a partida final da Olimpíada de 2012: o México ganhou do Brasil. Salvo engano, eu estava de ressaca: no dia anterior, enquanto você estava trabalhando no restaurante, eu tinha ido a Porto Belo para encontrar o Sergio Fantini e Carlos Henrique Schroeder.

Com o diploma debaixo do braço, você arregaçou as mangas e abriu um negócio inovador (diversos imitadores seguiram a trilha que você, corajosamente, desbravou). O food-truck foi o início de uma jornada fantástica e que, entre tantas conquistas, te levou a um programa nacional de televisão.

Obviamente, nem tudo são flores no nosso relacionamento de pai e filho. Discordamos em vários temas – e todos de suma importância. Eu adoro azeitona e você detesta; eu gosto de misturar o creme de baunilha com a gelatina e você diz que isso é heresia; eu como peixe frequentemente e você prefere carne em 100% das ocasiões. São barreiras intransponíveis, mas fazem parte da nossa diversão.

Compareço aos teus cursos de culinária para ver um profissional de sucesso, alguém que ama o que faz e que, exigente, sempre quer obter o melhor resultado.

Que bom que pude acompanhar todas essas tuas histórias. Estou torcendo para que a pandemia seja superada e possamos continuar nossas aventuras em restaurantes e cinemas.

Feliz Aniversário!




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