Mítia:
Parece que foi ontem. Não foi, mas esses
28 anos passaram rápido. É uma felicidade ter acompanhado o teu crescimento como indivíduo,
como empreendedor e, principalmente, como filho. Desastrosamente, estamos
vivendo tempos estranhos e este ano não foi possível comemorar adequadamente o
teu aniversário.
Lembro com bastante nitidez do dia 04 de
agosto de 1992. Estava na Prefeitura quando tua mãe me telefonou, no final da
tarde: Venha para a maternidade, nosso filho vai nascer. Abandonei tudo, peguei
um táxi e consegui chegar a tempo de assistir o espetáculo na primeira fila.
Foi tudo tranquilo – exceto no momento do teste de Apgar, que foi (para mim)
traumático.
Alguns anos depois, precisamos nos separar.
Tive que atravessar Santa Catarina e Rio Grande do Sul várias vezes para te ver.
Esses encontros, marcados por almoços no Tio Hugo ou pizzas no jantar, eram uma
alegria compensatória para todas as escolhas que fiz na vida. Duas vezes você
esteve comigo, uma em Florianópolis e outra em Itapema.
Depois que essa tempestade passou, nós
dois voltamos a morar na mesma cidade – embora em apartamentos diferentes. Recuperamos, na medida do possível, o tempo perdido com almoços no Laghos, sessões de cinema e revisões das
matérias escolares. Foi nesse período em que ampliamos o afeto.
Precisamos nos separar outra vez quando você
entrou na universidade. Enquanto teus amigos abraçaram a medicina, a engenharia,
o direito, você optou pela magia. Para mim, que sou um desastre nas artes gastronômicas,
cozinhar se parece com algo sobrenatural. Observo teus movimentos entre
panelas, talheres, ingredientes, temperos e percebo o quanto você se sente
feliz diante do fogão.
Fui te visitar várias vezes em Balneário Camboriú. Nunca
esqueci o sabor dos sorvetes artesanais italianos e daquela sobremesa de maçã
(que você nunca mais fez). Fomos várias vezes ao cinema naquele shopping longe,
mas não consigo lembrar quais foram os filmes. Também assistimos juntos, num
domingo pela manhã, a partida final da Olimpíada de 2012: o México ganhou do
Brasil. Salvo engano, eu estava de ressaca: no dia anterior, enquanto você
estava trabalhando no restaurante, eu tinha ido a Porto Belo para encontrar
o Sergio Fantini e Carlos Henrique Schroeder.
Com o diploma debaixo do braço, você
arregaçou as mangas e abriu um negócio inovador (diversos imitadores
seguiram a trilha que você, corajosamente, desbravou). O food-truck foi o
início de uma jornada fantástica e que, entre tantas conquistas, te levou a um
programa nacional de televisão.
Obviamente, nem tudo são flores no nosso
relacionamento de pai e filho. Discordamos em vários temas – e todos de suma
importância. Eu adoro azeitona e você detesta; eu gosto de misturar o creme de
baunilha com a gelatina e você diz que isso é heresia; eu como peixe frequentemente
e você prefere carne em 100% das ocasiões. São barreiras intransponíveis, mas
fazem parte da nossa diversão.
Compareço aos teus cursos de culinária
para ver um profissional de sucesso, alguém que ama o que faz e que, exigente,
sempre quer obter o melhor resultado.
Que bom que pude acompanhar todas essas tuas histórias. Estou torcendo para que a pandemia seja superada e possamos continuar nossas aventuras em restaurantes e cinemas.
Feliz Aniversário!
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