Quando os historiadores escreverem sobre
o que significou 2020 na vida dos brasileiros, provavelmente precisarão começar
com a longa lista de artistas mortos durante esse ano aziago. As perdas humanas
se somam com a desmontagem da estrutura cultural do país – promovida por um governo
que prefere a ignorância ao saber.
No momento em que a ex-Secretária Nacional de
Cultura (uma pessoa sem o mínimo entendimento sobre como funciona a
estrutura burocrática e política de um organismo de Estado) disse que desconhecia
a obra de várias personalidades que haviam falecido recentemente, não estava
mostrando o eterno descaso com que a pátria amada trata os artistas, estava
refletindo o pensamento que oscila entre a performance do discurso neonazista e
a ascensão dos medíocres nessa miragem que é o poder.
Fausto, travestido de artista, faz
pactos com Mefistófeles diariamente. Isso não é surpresa para ninguém – como advertiram
vários filósofos. O que causa horror é o momento em que os indivíduos perdem a capacidade
de análise, de percepção do processo civilizatório, e, em grau extremo, negam o
direito à vida.
Leonardo da Vinci escreveu que “A
arte diz o indizível; exprime o inexprimível; traduz o intraduzível”. Ele estava
indicando um caminho: que existem valores que não podem ser catalogados pela racionalidade
ou pela economia de resultados. Também estava dizendo que as artes plásticas, o teatro, a
literatura, a música e as demais formas artísticas podem ajudar a evitar a
barbárie.
Nestes tempos de pandemia, onde a
solidão se faz presente a cada instante, a arte tem sido extremamente útil para
evitar tragédias e confortar aqueles que estão próximos do descontrole
emocional. O universo adquire sentido quando um artista o interpreta e reparte
com as pessoas o seu trabalho.
Não quero chorar todos os dias por aqueles que que nos deixaram em 2020. Ao mesmo tempo, não quero esquecê-los. A lista está incompleta, é difícil lembrar todas as perdas:
Cinema e Teatro: José Mojica Marins, Susana Amaral, Flávio Migliaccio, Leonardo Villar, Maria Alice Vergueiro.
Artes Plásticas: Ricardo Brennard, Rossini
Perez, Nelson Leiner, Luiz Azulay, Abraham Palatinik, Christo.
Música: Moraes Moreira. Luiz Vieira,
Carlos José, Tunai, Cláudia Telles, Adelaide Chiozzo, Riachão, Naomi Munakata,
Martinho Lutero Galati.
Literatura: Jorge Salomão, Marcelo
Dolabela, Sergio Noronha, Rubem Fonseca, Sergio Sant’Anna, Luiz Alfredo
Garcia-Roza, Nirlando Beirão, Tereza Tenório, Afonso Arinos de Mello Franco,
Ruy Fausto, Aldir Blanc, Ciro Pessoa, Olga Savary, Luiz Maklouf Carvalho,
Fernando Py, Nonato Gurgel, Antônio Bivar.
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