Os jornais estão anunciando que o Presidente da República está com Covid-19. Ao sentir cansaço, indisposição e febre de 38 graus, aquele que possui físico de atleta resolveu fazer o exame. O resultado foi positivo. Imediatamente, contrariando a declaração de que a doença é só uma gripezinha, o ex-deputado federal foi medicado com hidrocloroquina e azitromicina.
Confesso que eu achava já tinha pegado lá atrás, declarou o ex-militar em entrevista, com a tranquilidade de quem gosta de cuspir gotículas virulentas nas pessoas. Provavelmente, sem o menor sentimento de culpa por recusar o uso de máscaras, deve ter contagiado algumas centenas de assessores, bajuladores, capachos e sabujos. Ninguém deve ficar surpreso se algum aspone, no estrito cumprimento do dever, disser que é essa a vontade de Deus.
Independente de o Presidente da República estar infectado pelo Covid-19, de servir "apenas" de outdoor humano para a cloroquina ou de estar procurando uma desculpa para não prestar depoimento à Polícia Federal, convém lembrar que esse senhor não é um narrador confiável. Em incontáveis oportunidades, o seu discurso (nas redes sociais ou ao vivo e em cores) se apresentou com imprecisões, lapsos, equívocos, mal-entendidos, enganos, deslizes, distrações, falhas e outros acidentes de percurso.
Será que, ao perceber que o governo está com uma, perdão, com várias pedras no sapato, algum burocrata, no interesse de puxar o saco do patrão, não propôs uma cortina de fumaça como profilaxia para a tempestade que se aproxima? Não deve estar sendo fácil controlar a série de denuncias contra três dos filhos do Presidente da República, a prisão de Fabrício Queiroz, a obstrução de justiça promovida por Frederick Wassef, as investigações contra as milícias cariocas, a Comissão Parlamentar de Inquérito das Fake News, o desacordo entre os três poderes da República, conflitos agrários (questão indígena, desmatamento florestal, grilagem de terras), descrédito no cenário internacional, os Ministérios da Saúde e da Educação acéfalos, além de outras questiúnculas do dia a dia, como a ameaça de impeachment.
É muita confusão para um único governo. A tudo isso se soma a notória ausência de capacidade gerencial para resolver os problemas que surgiram com a pandemia (aumento no índice de desemprego, estagnação industrial, fuga do capital de investimentos, queima do fundo de reserva com as oscilações do dólar, abono para os desempregados, etc.).
Para superar as crises, fez-se necessário encontrar algo positivo. Na falta de melhor opção, apresentaram o resultado do teste de Covid-19. Resta saber se o truque terá algum efeito prático ou se seguirá a lengalenga costumeira, a procissão interminável de fatos de difícil comprovação.
Em caso do diagnóstico ser inconteste,
parece-me que o doente deve cumprir quarentena no aconchego do lar, rodeado pelos entes
queridos e por médicos de comprovada competência técnica. Desta forma poderá se
restabelecer o mais rápido possível e retomar o timão desse barco à deriva que
chamamos de Brasil – iceberg à vista, capitão!
P.S: mesmo não sendo médico e nem
pretendendo sugerir conhecimentos estranhos à minha área de atuação, na
entrevista em que foi revelado o resultado do exame de Covid-19, o que me
causou estranheza foi a confissão de que o Presidente da República dorme mal e
acorda várias vezes durante a noite. Muitas possibilidades clínicas podem ser
sugeridas a partir dessa revelação. Com a palavra, os especialistas.
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