Algumas narrativas comovem mais do que
outras. Quando a pandemia desaparecer, essas histórias ficarão gravadas no
imaginário como exemplos do horror que estamos vivendo.
O estado de Israel tem promovido, nos
últimos anos, uma serie de anexações nos territórios da Palestina. A situação
de opressão aumenta a cada dia. A região costuma ser bombardeada por um dos
exércitos mais eficazes do mundo. Os
casos de tiroteios, violência física e prisões (inclusive de menores de idade)
são incontáveis. A isso se acrescenta que o Covid-19 atinge principalmente aqueles
que estão em situação de vulnerabilidade e que não dispõem de garantias de
segurança. A situação hospitalar na Cisjordânia e na Faixa de Gaza foge de
qualquer qualificativo que se possa chamar de humano. Por isso, a presença da
Cruz Vermelha tem sido decisiva para tentar auxiliar a população – mas isso nem
sempre é permitido pelas forças repressoras, que alegam medidas de segurança. A ideia por trás desse bloqueio (que ultrapassa os limites da razoabilidade) é ampliar o
cerco em torno das forças de resistência e sufocar qualquer forma de
organização política palestina.
Rasmi Suwaiti, 73 anos, residente em
Beit Awwa, na Cisjordânia, tinha leucemia e estava em tratamento quando contraiu
Covid-19. No dia 16 de julho, cinco dias depois de sua hospitalização, faleceu
no Hospital de Hebron. Parece um caso comum, nestes tempos sombrios que nos
atingem. E, infelizmente, o é. As estatísticas, que agrupam números e ignoram
os sentimentos, transformaram a morte em banalidade.
O diferencial, nesta situação específica,
ficou por conta de seu filho, Jihad Al-Suwaiti, 30 anos, que era muito ligado a
Rasmi e, durante os cinco dias, escalou a parede do hospital para poder fazer
companhia a ela. Impedido de se aproximar da mãe, por
conta do coronavírus, ele decidiu se instalar em uma
janela do hospital (um lugar bastante precário). Aconselhado a desistir desse procedimento, não seguiu as recomendações e deu continuidade ao desejo de estar próximo à mãe até o momento derradeiro. Ele só voltava ao solo quando percebia que ela estava dormindo.
Apenas uma vez Jihad obteve permissão
para entrar no quarto da unidade de tratamento intensivo para poder dizer adeus
à mãe.
Entre os palestinos, as relações de
afeto familiar são muito valorizadas, contrastando com a geografia árida, com a
carência de bens de subsistência (inclusive água) e a destruição diária do país.
P.S: O nome próprio Jihad está envolto
em curiosidade. Como não é possível, neste momento, averiguar a etimologia ou
algum sentido muito específico no idioma árabe, a compreensão mais linear
aceita como significado: guerra santa muçulmana contra os inimigos do Islã ou dever religioso de defender o Islã.
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