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terça-feira, 21 de julho de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CXXI)



Algumas narrativas comovem mais do que outras. Quando a pandemia desaparecer, essas histórias ficarão gravadas no imaginário como exemplos do horror que estamos vivendo.

O estado de Israel tem promovido, nos últimos anos, uma serie de anexações nos territórios da Palestina. A situação de opressão aumenta a cada dia. A região costuma ser bombardeada por um dos exércitos mais eficazes do mundo. Os casos de tiroteios, violência física e prisões (inclusive de menores de idade) são incontáveis. A isso se acrescenta que o Covid-19 atinge principalmente aqueles que estão em situação de vulnerabilidade e que não dispõem de garantias de segurança. A situação hospitalar na Cisjordânia e na Faixa de Gaza foge de qualquer qualificativo que se possa chamar de humano. Por isso, a presença da Cruz Vermelha tem sido decisiva para tentar auxiliar a população – mas isso nem sempre é permitido pelas forças repressoras, que alegam medidas de segurança.  A ideia por trás desse bloqueio (que ultrapassa os limites da razoabilidade) é ampliar o cerco em torno das forças de resistência e sufocar qualquer forma de organização política palestina.



Rasmi Suwaiti, 73 anos, residente em Beit Awwa, na Cisjordânia, tinha leucemia e estava em tratamento quando contraiu Covid-19. No dia 16 de julho, cinco dias depois de sua hospitalização, faleceu no Hospital de Hebron. Parece um caso comum, nestes tempos sombrios que nos atingem. E, infelizmente, o é. As estatísticas, que agrupam números e ignoram os sentimentos, transformaram a morte em banalidade.

O diferencial, nesta situação específica, ficou por conta de seu filho, Jihad Al-Suwaiti, 30 anos, que era muito ligado a Rasmi e, durante os cinco dias, escalou a parede do hospital para poder fazer companhia a ela. Impedido de se aproximar da mãe, por conta do coronavírus, ele decidiu se instalar em uma janela do hospital (um lugar bastante precário). Aconselhado a desistir desse procedimento, não seguiu as recomendações e deu continuidade ao desejo de estar próximo à mãe até o momento derradeiro. Ele só voltava ao solo quando percebia que ela estava dormindo.



Apenas uma vez Jihad obteve permissão para entrar no quarto da unidade de tratamento intensivo para poder dizer adeus à mãe.

Entre os palestinos, as relações de afeto familiar são muito valorizadas, contrastando com a geografia árida, com a carência de bens de subsistência (inclusive água) e a destruição diária do país.



P.S: O nome próprio Jihad está envolto em curiosidade. Como não é possível, neste momento, averiguar a etimologia ou algum sentido muito específico no idioma árabe, a compreensão mais linear aceita como significado: guerra santa muçulmana contra os inimigos do Islã ou dever religioso de defender o Islã.  


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