A cultura e o esporte são duas áreas que foram atingidas gravemente pelo Covid-19. Os negócios que movimentam essas duas
indústrias atingem valores estratosféricos e, de uma forma ou de outra, são uma
fração importante da economia. Os efeitos secundários dessa gangorra financeira
(teatros, cinemas, estádios, exposições, hotéis, restaurantes, transporte, turismo,
materiais esportivos, etc.) também são significativos.
Como será possível recuperar as peças de
teatro que foram canceladas, os recitais de música que precisaram ser
interrompidos, os lançamentos de livros adiados, os filmes que não foram
rodados? E os artistas de rua, que vivem um dia por vez, quem vai se preocupar
com eles? Inúmeras manifestações artísticas encontraram um nicho na internet:
leituras de poesia e prosa, lançamentos virtuais de livros, promoções das
livrarias, cursos de curta duração, shows de música. Esforços
para amenizar a crise. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas quase nada disso resulta
em algum ganho econômico. Sem dinheiro, não há sustento; sem sustento, não há
vida; sem vida, não há arte.
O ballet do tenista canadense Denis Shapovalov |
Quem poderá trazer de volta os treinos
preparatórios daqueles atletas que iriam competir na Olimpíada de Tóquio? Se o
evento se realizar no próximo ano, quantos atletas de alto rendimento ainda
estarão no ápice de suas performances? É possível que uma geração esportiva
esteja se perdendo neste instante. Campeonatos de futebol, basquete, vôlei e
muitos outros esportes foram suspensos ou cancelados. Até o Torneio dos
Candidatos (xadrez), que estava sendo realizado em Yekaterinburg (Rússia), foi
interrompido. O tenista Bruno Soares, em entrevista ao jornal La Nación, diz
ser impossível visualizar um cenário de normalidade no curto prazo e que a temporada
está quase perdida.
Uma situação de tranquilidade está cada
vez mais distante. Artistas e atletas ainda em formação também estão com o
futuro comprometido. Será que há sentido em treinar todos os dias para um prova
esportiva que nunca se realizará? Será que as artes plásticas, a música e a
literatura serão capazes de encontrar algum sentido nessa crise? Vladimir e
Estragon continuam esperando por Godot – que talvez chegue amanhã.
A cultura sobreviverá; o esporte, não.
Não se trata de uma expectativa, mas de uma análise baseada em evidências. Quem
trabalha nessas áreas já percebeu que os desafios se multiplicam a cada
instante.
Reduzida aos fragmentos, multiplicando as ações individualizadas, utilizando algumas das ferramentas da modernidade, a cultura manterá a chama viva. A produção de espetáculos por demanda virtual (com streaming) talvez seja uma saída – mas não para todos. O esporte (individual ou por equipes), ao contrário, necessita da presença do público – além de uma grande rede de apoio. Os riscos de contágio são imensos e não devem compensar os ganhos financeiros. Outro diferencial são os patrocínios – atividade comum nos eventos esportivos. Quem terá interesse em investir em competições que possivelmente serão relegadas ao segundo plano? O futebol montou uma rede de sustentação televisiva, mas não se pode dizer o mesmo do basquete (exceto nos Estados Unidos), do vôlei, do handebol, do atletismo. Estarão essas modalidades destinadas à extinção?
O mundo está de ponta-cabeça. Artistas e
atletas estão em perigo. O Covid-19 é a peste negra da modernidade.
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