Encontro na Internet um post muito interessante:
É um desses momentos em que o leitor não
sabe se deve entender a publicação como uma piada ou uma reflexão profunda do
momento em que estamos vivendo. Estou inclinado a considerar a segunda opção
como a mais adequada.
Uma das questões mais problemáticas do advento do Covid-19 é a interrupção do afeto. O distanciamento social se tornou uma norma
de segurança. Poucas pessoas possuem estabilidade emocional para viver sem abraços,
beijos, namoros, sexo (principalmente o recreativo). O mesmo raciocínio vale
para a sensação de aprisionamento que costuma atormentar aqueles que precisam ficar
isolados em casa. O deslocamento da redoma de segurança que construímos
ao redor de nós mesmos produz algum tipo de saudosismo difícil de ser
conceituado. Sair de casa acena para a possibilidade de procurar – lá fora – por
uma vida “normal”. Difícil resistir ao canto da sereia.
Olhando pela janela do apartamento, vejo
muitas pessoas se deslocando na avenida. Algumas estão se dirigindo para o
trabalho (ou voltando); outras, sozinhas ou na companhia de cães, fazem
exercícios físicos (caminhar, correr, andar de bicicleta). Poucas usam máscaras
e/ou luvas. O perigo é uma variável que não as preocupa.
O trafego de veículos também não diminuiu.
Parece sugerir que há a possibilidade de evitar o vírus através da velocidade.
Parar o carro no semáforo não agrada os motoristas – que buzinam, dizem
palavrões, se mostram impacientes. Essa conduta indócil não é dirigida para
alguma coisa específica. No máximo, manifesta o descontrole diante do incompreensível.
No supermercado, há outro tipo de comportamento.
São poucos os conhecidos que encontro nos corredores, todos com pressa, todos
mascarados. Acenam ao longe, o medo impedindo qualquer tipo de intimidade. Ao
passar as compras no caixa, descubro que não há mais espaço para “bater papo” –
tudo se tornou frio, eficiente, mecânico. Conversar se tornou tabu – a fala foi
substituída pelos espaços virtuais das redes sociais (todos estão conectados).
Volto ao post acima. A sensação de
estranhamento por um mundo que perdeu o sentido fez com que aquilo que antes
considerávamos horrível se transforme em saudade. Ir ao bar – em princípio – é um
exercício terapêutico. Encontrar os amigos, beber cerveja, comer alguma coisa, contar
causos e mentiras, pedir conselhos – são muitas as alegrias que conduzem para esse
tipo de socialização. Ao mesmo tempo, há o garçom chato, os fanáticos por
futebol, os “enganos” na conta, o péssimo atendimento, etc.
Com o Covid-19 o bom e o ruim se igualaram. Ou melhor, deixaram de existir.
Com o Covid-19 o bom e o ruim se igualaram. Ou melhor, deixaram de existir.
O passado costuma nos sinalizar para o autoengano. Temos vontade de voltar a viver o que
imaginamos ter existido – mesmo naqueles momentos em que o masoquismo supera o prazer.
Ah, ah, que tal um bar virtual ?
ResponderExcluirPode ser a solução, Marília. O que pode atrapalhar um pouco é a possibilidade de servirem bebidas virtuais para pessoas virtuais. Como escreveram os filósofos, no mundo líquido, tudo que é sólido desmancha no ar.
ResponderExcluir