Ficar em casa nunca me causou problemas;
ao contrário, gosto – e muito! Internet, televisão, livros, CDs, filmes –
distração não falta. Posso escrever o que quiser, na hora que quiser, e ninguém
vai me atrapalhar. Tenho comida no armário e na geladeira. Não é uma vida ruim.
Mas,... Sempre aparece um imprevisto. Desta vez, queimou o chuveiro.
Queimar o chuveiro é expressão errada,
me ensina o Assistente para Assuntos Elétricos e Hidráulicos (AAEH). Não existe
mais essa história de curto-circuito, estouro, susto, medo de ser eletrocutado.
Os chuveiros modernos possuem placas eletrônicas e que – em determinado momento
– deixam de funcionar. É, literalmente, uma ducha de água fria.
Digo-lhe que foi isso que aconteceu.
Tomei banho pela manhã. Não percebi nada de diferente. No final da tarde, água gelada. Poderia acrescentar que não desejo banho
frio nem para o meu pior inimigo, mas isso é mentira, desejo sim – além de suplícios outros.
Relatei para o AAEH que, naquele
momento, após exprimir inúmeros palavrões impublicáveis, disse para mim mesmo
que era muito azar acabar a luz na hora do meu banho. Enxuguei o corpo e, diante
do interruptor, disse: Fiat Lux. Fez-se. O que me levou à conclusão de que a
causa da crise era outra. Nada mais me restou senão voltar para debaixo da água
gelada. Foi um banho rápido, muito rápido. O mesmo aconteceu na manhã
seguinte.
O AAEH chegou logo depois do almoço,
trocou a engenhoca, fez o serviço em menos de 30 minutos. Paguei sem reclamar –
e pagaria mais se fosse necessário. Tenho dificuldades psicológicas com qualquer
coisa que envolva eletricidade. Por exemplo, trocar lâmpada sempre foi uma
tragédia. Preciso desligar o quadro geral de luz do apartamento antes de
iniciar a atividade. Quando começaram a comercializar essas lâmpadas que duram quase
uma eternidade, minha vontade foi a de ir até a gruta de São Bom Jesus de Iguape,
acender vela, e agradecer aos deuses da tecnologia.
O primeiro banho com o chuveiro novo foi
catártico. Não pela limpeza dos detritos produzidos pelo corpo. Isso é
importante, claro. Ou melhor, imprescindível. Não é disso que estou falando/escrevendo.
O que considero significativo é a sensação de bem-estar, o realinhamento com as
forças do universo, um conjunto de cânticos e louvores aos atos civilizatórios.
Conta a lenda que os franceses não são
muito amigos do banho – e que aperfeiçoaram a indústria da perfumaria para
mascarar os odores naturais do corpo. Não tenho certeza se isso é verdade ou
apenas um boato inconsequente. O que sei é que, em algumas regiões da Europa, o
usual é tomar banho de banheira. É o meu sonho de consumo. Se, em futuro
próximo, ganhar da loteria (apostas temporariamente suspensas pelo Covid-19), quero
uma banheira esmaltada, sais de banho, espumas coloridas.
É um sonho infantil, talvez uma volta ao líquido amniótico. Não sou psicólogo para fornecer explicações para essas regressões aos primórdios da vida. Também não entendo quando dizem que tomar banho de banheira é uma forma de mergulhar na própria sujeira. Tento lembrar se alguém foi capaz de dizer essa bobagem em relação ao banho em piscina. Nada concluo, porque não há o que se concluir.
Em hipótese hipster, deve ser interessante experimentar um ofurô. Preciso dessa aventura!
É um sonho infantil, talvez uma volta ao líquido amniótico. Não sou psicólogo para fornecer explicações para essas regressões aos primórdios da vida. Também não entendo quando dizem que tomar banho de banheira é uma forma de mergulhar na própria sujeira. Tento lembrar se alguém foi capaz de dizer essa bobagem em relação ao banho em piscina. Nada concluo, porque não há o que se concluir.
Em hipótese hipster, deve ser interessante experimentar um ofurô. Preciso dessa aventura!
À elegia do banho (de chuveiro, de banheira) deve-se adicionar três momentos terapêuticos do encontro humano com a natureza: os rios, o mar e a chuva. Mas, devido ao adiantado da hora, isso é assunto para outro
momento.
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