Ainda não é o
fim. Sequer chegamos ao começo do fim. Talvez seja o fim do começo. Começo a
desconfiar dos cálculos e projeções. A vida é curta. A morte é lenta. Este produto
causa náusea e desvarios. A previsão é de sol com muitas nuvens durante o dia
e tempestades isoladas à noite. Barricadas nas praças de alimentação. Abrigos nas
portas giratórias. Hoje não aconteceu nada.
(Bruno
Brum)
O fim do mundo está próximo? Não sei! É
difícil fazer esse tipo de previsão. Ao longo da História, as civilizações
antigas e modernas tentaram encontrar algumas fórmulas mágicas para prever o
futuro. Descontando a astrologia, os diversos tipos de baralhos, o I Ching, as
bolas de cristal e as pajelanças místicas (táticas e técnicas que contam com significativa audiência
popular), inúmeros caminhos podem ser trilhados nessa floresta de muitas
perguntas e poucas respostas.
A borra do café (cafeomancia), as folhas
de chá (teimancia ou tasseomancia), as vísceras dos animais (sendo que a hepatomancia
é a mais conhecida), a forma com que as velas queimam (licnomancia), as
profecias de Nostradamus, os presságios da civilização maia e o apocalipse
bíblico são alguns dos oráculos em que os curiosos podem beber da água da
sabedoria.
Animais também podem ajudar aqueles que,
saudosos do ontem, querem controlar o amanhã. Dependendo da região do mundo e
da demanda dos bichos, há pessoas capazes de fazer prognósticos com aranhas
(aracnomancia), gatos (ailuromancia) ou observando o voo dos pássaros
(heteromancia). A margem de erro, dizem, é mínima.
No campo heterodoxo, onde reside o domínio
do sobrenatural, dois métodos são considerados quase infalíveis: a onicomancia
e a tyromancia. O primeiro consiste em esfregar as unhas de uma criança em
azeite e sebo. Os sinais produzidos por essa ação podem abrir as portas do
porvir. O segundo procedimento é menos frequente. Algumas pessoas com poderes
iniciáticos são capazes de fazer a leitura do que acontecerá através de uma peça de queijo. Analisando
os buracos que aparecem no laticínio e os padrões do bolor visualizam o horizonte e
outras coisas, talvez os tempos vindouros.
Quando se trata de “ler” os desígnios do
que está para acontecer, não se pode deixar de considerar como fundamental a
astúcia da civilização grega. Queimar ramos de louro (dafnomancia) era um procedimento bastante usado por aqueles que não se contentam com o trivial e faziam
questão de falar diretamente com os deuses. Não sei se, no momento do fogaréu,
um portal se abria e a escada para o Olimpo ficava a disposição de quem queria
conversar tête-à-tête com Zeus. O que ninguém pode negar é que a névoa aromática induz a algum tipo de contato
com o além. Talvez seja desse proceder que surgiram os incensos.
Os gregos também sabiam ser vingativos
quando o assunto era a previsão do futuro. O caso de Cassandra é emblemático. Na
infância, ela e o irmão gêmeo, Heleno, receberam o dom da adivinhação. Depois
de alguns anos, Apolo, o gostosão do Olimpo, queria ter um caso com a jovem
troiana (irmã de Heitor e Páris). Conversa vai, conversa vem, ela aceitou a
cantada. Na hora H, quando o ato estava prestes a ser executado, por alguma
razão que a lenda não revela, a moça disse não. O ego machucado do macho exigiu
vingança. Pelos poderes que lhe foram conferidos por toda a eternidade, Apolo
puniu Cassandra com... Ah, os deuses são cruéis: ela continuaria com os poderes
divinatórios, mas ninguém levaria a sério as suas previsões. Quando foi necessário,
ela avisou aos troianos de que os gregos jamais derrubariam as muralhas da
cidade (o que realmente aconteceu). Infelizmente, eles não acreditaram na segunda parte da
profecia: que a cidadela tinha outras vulnerabilidades – foi pela porta da
frente que a derrocada se estabeleceu.
Diante do computador, escrevendo mais ou
menos quinhentas palavras diárias, não consigo imaginar o armagedom. Em todo
caso, estou lendo/relendo Tudo Pronto para o Fim do Mundo (poemas do Bruno
Brum), Ideias Para Adiar o Fim do Mundo (Ailton Krenak) e Mundos
Apocalíticos (contos de ficção científica). Talvez isso me ajude a enfrentar o
fim, se o fim não atrasar – outra vez.
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