- Paiiiiiiêêêêêê?!?!?
- Hum,...
- Posso fazer dois pedidos?
- Hum-rum.
- Posso mesmo?
- Já disse que pode!
- Compra um par de brincos e uma bermuda floral pra mim?
- O quê?
- É, bermuda e brincos. Vai dizer que você não sabe o que é isso?
- É claro que eu... Ora, eu sei! E a minha resposta, quanto ao brinco, é NÃO!
- Porque, pai?
- Vamos comprar a bermuda floral. Você vai ficar lindo, quero dizer, mais lindo ainda. Já estou te imaginando com aquele ar de surfista saradão, pronto para namorar umas gatinhas vitaminadas. É isso aí!
- E o brinco?
- Filho meu não usa brinco!
- Não entendi!
- É simples. Você não é índio ou cigano!
- Desculpe, mas não entendi! O que é que uma coisa tem a ver com a outra?
- Você é muito pequeno para compreender esses assuntos, mas somente os índios e os ciganos é que usam brinco!
- Mas, pai, todo mundo, lá na escola, usa!
- Menino, é o seguinte: você não vai usar argola na orelha e pronto! E, se você insistir nesse assunto, se prepare para uma boa surra de cinta!
- Agora entendi! O senhor, cheio de ares intelectuais, quer mudar o mundo com surra de cinta!
- Esse mundo está mesmo perdido! Ô piá: queira, por favor, esquecer o assunto.
- Paizinho, preste atenção: o mundo mudou. De que te adiantam todos esses livros chatos que você vive lendo, se a tua cabeça continua atrasada?
- Epa! Que história é essa de você estar julgando as minhas atitudes?
- Pai, eu quero usar brinco. Se você não deixar, vou pedir pra mãe. E tenho certeza que ela vai me apoiar, exatamente porque você não deixou, entendeu?
- ...
- Outra coisa, meu adorável papai: estou decepcionado. Pensei que encontraria no senhor alguém que fosse capaz de entender as minhas necessidades. Sabe, aquela coisa da, como é mesmo a palavra que o senhor usa?, ah, lembrei, cumplicidade.
- &%#****
- O que é isso, paizinho? Palavrão é muito feio.
- &%#****
- Vou contar pra mãe!
- Calce o tênis, seu... O que foi que eu fiz para merecer isso? Você venceu: vamos comprar essa porcaria, quem sabe assim você para de encher o meu saco!
- Oba!
- Mas não fique muito feliz, vai ser um daqueles bem discretos, bem pequeno.
- Tudo bem! Será que eu posso pedir mais uma coisa?
- Pode.
- Pai, eu queria pintar o cabelo. De azul.
É os tempos mudam vertiginosamente, mas as coisas mais ou menos se repetem! E as cabeças muito pouco...
ResponderExcluirSoninha: sabe o que é pior nessa história? Salvo pequena adaptações literárias, o diálogo aconteceu nesses mesmos termos, os argumentos foram esses. E a cara do pai estampou a verdade absoluta: "o novo sempre vence".
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