Futebol era o jogo, mas se alguém pensasse em guerra seria a mesma coisa.
De um lado, meninos de excelentes famílias, vestindo calções e camisetas de boa qualidade; do outro lado, um bando que parecia desconhecer água e sabão, além de estarem usando um uniforme que, francamente, já havia conhecido melhores dias. A idade média dos jogadores era de 11 anos e a partida estava valendo por uma rodada do campeonato infantil.
Nas arquibancadas, torcidas desorganizadas. No grupo que apoiava o time dos meninos bonitinhos, alguns pais roíam unhas, faziam gestos desesperados e, para não parecerem que estavam próximos da loucura, xingavam a mãe do juiz. Pela outra equipe, uns cinqüenta (ou mais) garotos – seria injusto deixar de registrar aqui que alguns pais dos meninos de uniforme bonito ficaram com medo dos “pivetes”; a gente nunca sabe o que essa piazada de bairro pode fazer, não é mesmo?
Dentro de quadra, empurrões e caneladas. Ao mesmo tempo, o placar mudava com uma velocidade irritante: um a zero, um a um, dois a um. E dá-lhe chutes a gol, erros de passe e meninos caídos em quadra. E, para completar a festa, gol: quatro a um, cinco a um. Fácil, fácil. Nove a um foi o placar final.
Eu estava sentado na arquibancada e me alegrei com cada um dos gols. “Bem feito! Quem mandou esses riquinhos se meterem a jogar conosco?”, falei para mim mesmo. Ao ver o jogo dos meninos, me senti transportado para o passado: naquele instante eu também tinha 11 anos e estava em quadra, jogando, fazendo gols. Fui estudante de escola pública: era através do esporte que superávamos as dificuldades. Vencer as equipes dos colégios particulares podia não resolver as nossas carências, mas era o incentivo necessário para continuar resistindo.
Eu estava sentado na arquibancada e torcendo para o lado errado! Só entendi que estava contradição total quando vi o meu filho quase sem fôlego, tomando dribles, se esforçado para que o vexame fosse menor: ele estava jogando no time que perdeu!
Depois do jogo, abraçado ao menino, pensei em lhe pedir desculpas por, de certa forma, tê-lo abandonado. Não consegui – “um anjo torto, desses que vivem na sombra” parecia me dizer que os gols do time adversário simbolizavam uma espécie canhestra de justiça social.
De um lado, meninos de excelentes famílias, vestindo calções e camisetas de boa qualidade; do outro lado, um bando que parecia desconhecer água e sabão, além de estarem usando um uniforme que, francamente, já havia conhecido melhores dias. A idade média dos jogadores era de 11 anos e a partida estava valendo por uma rodada do campeonato infantil.
Nas arquibancadas, torcidas desorganizadas. No grupo que apoiava o time dos meninos bonitinhos, alguns pais roíam unhas, faziam gestos desesperados e, para não parecerem que estavam próximos da loucura, xingavam a mãe do juiz. Pela outra equipe, uns cinqüenta (ou mais) garotos – seria injusto deixar de registrar aqui que alguns pais dos meninos de uniforme bonito ficaram com medo dos “pivetes”; a gente nunca sabe o que essa piazada de bairro pode fazer, não é mesmo?
Dentro de quadra, empurrões e caneladas. Ao mesmo tempo, o placar mudava com uma velocidade irritante: um a zero, um a um, dois a um. E dá-lhe chutes a gol, erros de passe e meninos caídos em quadra. E, para completar a festa, gol: quatro a um, cinco a um. Fácil, fácil. Nove a um foi o placar final.
Eu estava sentado na arquibancada e me alegrei com cada um dos gols. “Bem feito! Quem mandou esses riquinhos se meterem a jogar conosco?”, falei para mim mesmo. Ao ver o jogo dos meninos, me senti transportado para o passado: naquele instante eu também tinha 11 anos e estava em quadra, jogando, fazendo gols. Fui estudante de escola pública: era através do esporte que superávamos as dificuldades. Vencer as equipes dos colégios particulares podia não resolver as nossas carências, mas era o incentivo necessário para continuar resistindo.
Eu estava sentado na arquibancada e torcendo para o lado errado! Só entendi que estava contradição total quando vi o meu filho quase sem fôlego, tomando dribles, se esforçado para que o vexame fosse menor: ele estava jogando no time que perdeu!
Depois do jogo, abraçado ao menino, pensei em lhe pedir desculpas por, de certa forma, tê-lo abandonado. Não consegui – “um anjo torto, desses que vivem na sombra” parecia me dizer que os gols do time adversário simbolizavam uma espécie canhestra de justiça social.
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