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quinta-feira, 3 de março de 2011

VARIAÇÃO DE UM VELHO TEMA

Ele tinha 25 anos e estava apaixonado. Mas não era apenas o amor. Era muito mais. Uma paixão violenta, um turbilhão, uma tempestade. Algo que ultrapassava todas as definições, todos os adjetivos. Era o seu ritual de passagem — a vida dividida entre o antes e o depois.

É claro que a família não pensava assim. Quase todos torciam o nariz para aquela relação, no mínimo, escandalosa. Onde é que já se viu uma coisa dessas?, perguntava a irmã mais nova. A outra irmã, muito mais vivida (quer dizer, muito mais esperta), fazia gênero, mas para não ficar no meio do fogo cruzado também concordava com o pessoal – embora apoiasse o romance do mano. Não liga pra essa gente besta, cara! Vai fundo!, aconselhava baixinho. E, no momento em que aparecia alguém, mudava rapidamente de assunto.

A destruidora de corações tinha quase quarenta anos. Era alta, elegante, educada e com algum dinheiro. Pouco, é verdade. Mas, perto daquela família, parecia rica. Aliás, muito rica. E isso, de certa forma, justificava toda a resistência.

A mãe não deixava por menos e se referia à namorada do filho como “aquela piranha”. E previa: Isso vai ser o fim dele. Escrevam o que estou dizendo: essa “zinha” vai acabar com o meu filho! Em seguida, caía em prantos. Chorava umas duas Cataratas do Iguaçu. Depois, semi-catatônica, parecia exigir providências contra esse descalabro.

Enquanto isso, a relação ia de vento em popa. Estavam quase morando juntos. A fase dos beijinhos tinha ficado no passado. Era hora de definir o futuro. Por isso, providências enérgicas foram tomadas. E ao pai coube resgatar o filho desgarrado.

Com a conversa mole de sempre, e constrangido pelo inusitado da situação, o “velho” tentou explicar para o rapaz que a diferença de idade é sempre um problema — ou melhor.... Mas, não completou a frase. Depois de um silêncio incomodo, disse, pausadamente: Quer saber de uma coisa? Todas as mulheres são problemas. Deveriam vir com manual de instrução. Só assim a gente estaria mais seguro. Talvez errássemos um pouco menos ao, digamos, manuseá-las. Olhando fixamente para o filho, terminou a conversa: Você sabe, só estou aqui porque tua mãe pediu. Se não falo com você, ela me mata!

O filho abraçou o pai. Disse uma bobagem qualquer e o convidou para tomar uma cerveja no bar da esquina.

No dia seguinte, arrumou as malas e foi embora. Deixou um bilhete dizendo que “as melhores coisas da vida simplesmente acontecem. Não podemos evitar. O que talvez possamos escolher são as coisas ruins”. No post-scriptum, lembrou à mãe que se a namorada estava na idade da loba, ele estava pronto para ser devorado.

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