No final da tarde de domingo, lá pelas 17:00 horas, avisei ao menino que estava na hora de voltar para casa. Para a casa da mãe dele. Depois de um final de semana onde se misturaram eventos singulares como jogos de fliperama, pizza na noite de sábado, partidas de xadrez, dois vídeos infanto-juvenis e um excelente almoço de domingo, deveríamos nos separar.
Fechei a porta do apartamento, chamei o elevador e fiquei olhando para o menino, a mochila e o skate. Senti a necessidade física de abraçá-lo com força, tentativa inútil de demonstrar o meu amor. Entramos no elevador e durante alguns segundos a vertigem da queda foi a metáfora adequada para exprimir a história de nossas vidas.
No hall do prédio foi inevitável trocar olhares cúmplices com um conhecido que estava “devolvendo” uma das filhas. Olhando para o rosto da menina, ele se esforçava para esconder a dor enquanto prometia um novo encontro na semana seguinte.
No outro lado da rua, outro "pai solteiro". E na companhia do filho. Esses dois nós já havíamos encontrado antes, lá no fliperama. O menino, magro e alto, parecia feliz. O pai, talvez pensando em negócios, não muito. Havia uma nítida falta de sintonia entre eles.
De mãos dadas, o menino e eu, caminhamos pelas ruas da cidade. Inconscientemente, queríamos prolongar o percurso entre o apartamento em que moro e o de sua mãe, como se fosse possível dar um drible no tempo e evitar a separação.
No meio do caminho, em uma praça, durante uns trinta minutos, o rapazinho “skeiteou”. Foi nesse momento que me lembrei de Vic Damico, personagem interpretado por Randy Quaid em Os Descasados (Bye Bye Love. Dir. Sam Weisman, 1995). Quase no final do filme, ele faz um "discurso":
Antes do divórcio, eu achava que era ligado nos filhos. Mas não era. Eu os amava. Cuidava deles. Dava-lhes teto, comida. Mas deixei para minha ex-esposa a responsabilidade emocional. As coisas intimas. E ela era boa nisso. Ainda é. Eu trabalhava às vezes em dois empregos. Não estava muito presente. Ia para casa e ela me dizia a quem abraçar, com quem gritar. Eu lia os boletins, dava beijos de boa noite. Às vezes fazia o café da manhã. E era isso. Entendeu? Mas agora, quando meus filhos estão comigo, eles estão comigo. Eu ponho os band-aids. Sou eu quem esfrega suas barrigas, lava os seus cabelos, os consolo quando têm pesadelos. E aí eles voltam para a mãe deles e eu percebo o que estou perdendo. Sabe, antes eu não sabia. Agora eu sei.
Adorei! Como 'e importante viver o momento presente de corpo e alma! As vezes, a gente esta presente fisicamente, mas em devaneios inuteis!
ResponderExcluirBonitos estes teus momentos entre teu filho e você. Tanta dor e tanto amor resumidos num simples final de semana. Penso que nestes dois dias entregastes teu amor e destes incondicionalmente, mais do que se estivesse sob o mesmo teto. Um abraço.
ResponderExcluirParabéns pelo seu dia, Papai!
ResponderExcluirSoninha: Obrigado!
ResponderExcluirEMOCIONADA....SEM PALAVRAS...MEXEU MUITO COMIGO. IDENTIFICAÇÃO TOTAL. GRATA PELA POSTAGEM.
ResponderExcluirBEIJO!
É tão lindo isso, Raul. Hoje vou compartilhar aos montões.
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