Participo, no Facebook, de vários grupos
que reúnem leitores e leitura. Independente das características
idiossincráticas de cada um deles (alguns voltados para prosa, outros para a
poesia), o que me assusta e, ao mesmo tempo, me deixa aliviado, é que prevalece
o conceito de que a leitura está ligada ao entretenimento.
Em outras palavras, grande parte das
discussões se concentram em livros policiais, thrillers, narrativas de terror e histórias de
amor (inclusive as de estilo “hot”). Aqui e ali, alguém faz referência aos
clássicos ou aos gêneros relativamente marginais (para esses leitores) como a
ficção científica e a poesia mais intimista ou que aborda questões identitárias. Mas isso está ficando raro. No geral, são leitores de Agatha Christie, Sidney Sheldon e Nicholas Sparks que predominam. Na poesia, o romantismo e os versos piegas fazem o coro dos contentes ficar deprimido.
Ler é melhor do que não ler – em qualquer
instância. E, se o leitor encontra algum tipo de fruição no texto, não há
porque fazer ressalvas.
No entanto, na contracorrente, me proponho a elaborar restrição. Em vários momentos, o meu espírito anarcobibliográfico me empurrou para situações não muito pacificas. Tenho, esporadicamente, postado as capas de
alguns livros que fogem do padrão de cada um desses grupos. Na maior parte das
vezes, evito ser muito incisivo. Mas, confesso, há dificuldades em manter a civilidade.
Também faço comentários em postagens
alheias. Arrisco palpites, envio sugestões de histórias similares ou antagônicas,
destaco passagens ou referências. Em alguns momentos, usando exemplos da teoria
da literatura e da minha própria experiência de leitor, procuro indicar que há
esta ou aquela possibilidade de ampliar o alcance de reflexão.
A ideia jamais será mudar a opinião dos
leitores, longe disso. Mas, como a esperança é a última forma de resistência,
faz parte da brincadeira assinalar (sublinhar) que a literatura não pode, nem
deve, se contentar com narrativas “quadradinhas”, aquelas que descrevem dramas
lacrimosos e enveredam para os finais felizes.
Nem sempre funciona. Aliás, na maioria
das vezes, são tiros n’água, o eterno brincar de “batalha naval”, um jogo que
saiu de moda, mas que continua sendo uma metáfora razoável para essas situações
em que o resultado depende mais do tatear do que da experiência.
Continuo acreditando que, em algum
momento impreciso, surgirá um leitor com poder crítico, capaz de interpretar
textos menos palatáveis para o público médio. Infelizmente, antes de qualquer
coisa, urge ter claro o significado conceitual de poder crítico, textos menos
palatáveis e público médio. Como isso complica muito a discussão, talvez seja
melhor se concentrar apenas em multiplicar o número de leitores – uma tarefa
que nunca foi fácil e que, com os avanços da tecnologia, está se tornando mais
complicada.
Para a indústria cultural, o livro é um
artigo comercial. Portanto, assim como uma lata de extrato de tomate, precisa
ser consumido antes que o prazo de validade termine. Em paralelo, o acesso à
informação e ao entretenimento, consequências naturais da modernidade, não
melhorou a qualidade dos leitores. Diante de tantas alternativas, escolher
causa angustia. Talvez isso explique (em parte) porque há tanto espaço para
bloguistas literários nas redes sociais. São eles que, assim como os antigos
críticos literários, estabelecem um “gosto médio” e decidem, através de
indicações e resenhas, que livros devem ser lidos ou ignorados.
Distante das questões de gosto e de
interesses pouco visíveis para o público, esse tipo de marketing literário não parece ter consistência. Tenho comigo que ampliar o leque de leitura deve se impor, mas me
mostro cético com algumas indicações que são impulsionadas por editoras e/ou
clubes de leitura.
O prazer de ler. Ler com prazer. Ver com outros olhos e além do que está visível. Estes me parecem ser os objetivos do leitor. O que desejam os editores, os livreiros e os blogueiros são outras coisas.
Concordo! Eu por exemplo, vez ou outra, me pego lendo Paulo Coelho. E eu gosto!
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