Cafebreria El Pendulo, Cidade do México |
O Covid-19 está matando as livrarias. Algumas
editoras também estão com os dias contados. O modelo econômico, baseado no
comércio eletrônico, vai – a médio e longo prazo – eliminar a diversidade e
destruir a concorrência. Só sobrará (se sobrar) lugar para as grandes empresas –
que podem oferecer descontos e promoções, atraindo o público que foi educado
para levar vantagem em tudo.
Sim, eu sei que o parágrafo acima beira
o niilismo e é contrário à (hilariante) filosofia do empreendedorismo. Mas, diga
lá, nestes tempos de quarentena, como é que o pequeno negociante vai sobreviver
com as portas fechadas, tendo que pagar aluguel, impostos e as despesas com água,
luz, telefone, salários?
A crise atingiu um ponto nevrálgico: a
distribuição. Os valores absurdos das tarifas postais estão inviabilizando as
vendas de livros físicos, principalmente os usados (sebos). As empresas de
transporte e entrega de mercadorias não conseguem ocupar o território abandonado
pelos Correios. E os preços que praticam também não são competitivos.
Conglomerados como Estante Virtual,
Portal dos Livreiros e Livronauta estão se arrastando para competir com a
Amazon, Submarino e as cambaleantes livrarias Cultura e Saraiva – que não
poupam esforços publicitários para ganhar clientes a todo instante. Mas, o
inimigo principal do livreiro é outro: as plataformas que oferecem e-book (e seu primo pobre, o áudio-book) – basta acessar a loja virtual e fazer a compra. As vantagens são
indiscutíveis: download instantâneo, não ocupa espaço de armazenamento e é mais
barato. Ah, o e-read ajusta o tamanho de letra para aqueles que possuem
problemas de visão.
Acumular livros físicos logo se
transformará em excentricidade, algo como colecionar ossos de dinossauros, selos,
moedas, pedras coloridas. A assepsia do prazer sensorial (peso, cheiro, tato),
característica de um tempo em que as relações afetivas estão se tornado
esgaçadas, acabará por produzir um mundo em que a mercadoria livro não terá
personalidade (ou “aura”, na definição certeira de Walter Benjamin).
Não bastasse esse cenário desolador, a
notícia recente da falência da matriz do Wirecard, o meio de pagamento usado
pela Estante Virtual, jogou mais uma pá de cal em cima de quem está próximo dos
últimos estágios de vida. Os sistemas de pagamento “on line” ficaram frágeis. A
confiança está desaparecendo. Além
disso, a volatilidade da economia “real” (mas que se manifesta virtualmente)
torna imprevisível qualquer plano de negócios que exija tempo de maturação. O
imediatismo, atrelado às cotações do câmbio e da bolsa de valores, tende a destruir
o futuro (se é que, nestes tempos tenebrosos, se pode falar em futuro).
As editoras estão adiando ou cancelando lançamentos. Para que colocar o produto à venda se não há compradores? Ou, em hipótese
mais desoladora, se os eventuais clientes não conseguem acessar esse
material? Tudo ficou mais difícil atualmente e os eventos pela Internet não possuem força
suficiente para empurrar a área comercial dos livreiros.
O que fazer? Ninguém sabe. Não há uma
resposta para o desmoronamento. Comprar nas pequenas livrarias, sebos e
editoras alternativas pode ajudar, mas não é garantido. É como dar um pouco de
ar para quem acabará asfixiado. No entanto, enquanto for possível resistir... esse
é o caminho que estou seguindo.
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