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segunda-feira, 15 de junho de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (LXXXV)



Segundas-feiras deveriam ser eliminadas do calendário semanal. Era isso o que costumava dizer antes da pandemia. Não mudei de opinião. Flexibilizei. Ainda as detesto, mas agora, quando estamos vivendo uma situação emergencial, são uma boa desculpa para romper com a rotina.

O barulho do whatsup me acordou. A empregada da minha mãe me informava que havia um vazio na despensa. Depois de resolver as questões básicas da manhã, munido de máscara, fui ao supermercado – uma lista interminável de compras.

Sai de casa enrolado no cachecol. O casaco e a bota completaram o look, mas não estava elegante o suficiente para fazer sucesso no fashion week. Lástima. Média de 10º C no Planalto Catarinense, sensação térmica é de uns 7º C, provavelmente menos. Para o Ministro Interino da Doença, que alterou a posição dos trópicos e a linha do Equador, frenético e saboroso verão.

Levei os víveres (uma palavra quase esquecida!) antes do meio dia. Chamei a empregada pelo telefone e deixei as sacolas no portão. Minha mãe está com inicio de Alzheimer e pensa que estou em Florianópolis. Melhor assim. Precisamos nos cuidar.

No Itaú, fui pagar boleto – esse inferno em forma de papel colorido que não se cansa de me atormentar. Fila enorme. Talvez a solução para esse fenômeno seja guardar dinheiro debaixo do colchão, como no tempo de meus avós. Nem todo mundo quer ter cartão de crédito – alguns, por “n” motivos, não o podem ter.

Voltei ao supermercado. Procurei na sessão de quinquilharias domésticas uma lâmpada fluorescente, 25W. Ontem, no final da tarde, o escritório mergulhou na escuridão. Sem qualquer aviso, fade out (se me permitem o uso dessa expressão do mais legítimo português castiço). Triste constatação, as lâmpadas não são eternas.



Não encontrei a lâmpada. Ou não soube procurar.

Levei o almoço para casa: tainha. Estava bom.

Perto do outro supermercado, há uma loja que vende de tudo. A lâmpada falecida, dentro de uma sacola de plástico, também foi passear. A moça que me atendeu, ao ouvir a história, me pediu para testá-la. Vi o milagre da ressurreição. Talvez tenha ocorrido algum mau contato. Sei lá. Por vias das dúvidas, comprei uma nova.

Ao chegar em casa, reprise de péssimo capítulo da novela. Tenho medo pânico de eletricidade. Trocar lâmpada é um exercício de superação psíquica. Isso significa que, para ter um mínimo de tranquilidade, precisei desligar todos os disjuntores. Subi em cima da mesa (o pé direito do apartamento é alto) e executei a tarefa. Tentei primeiro com a lâmpada antiga. Depois de atarraxá-la no bocal, desci da mesa, fui até a caixa de luz e liguei a corrente elétrica. Continuava adormecida. Nada mais restou senão repetir a pantomina, desta vez com a lâmpada nova. Fiat lux.

Sentei no sofá e fiquei uns quinze minutos olhando para o nada, uma maneira particular de tentar recuperar as energias. Talvez precise aprender Tai Chi Chuan. Em seguida, descartei essa vontade passageira. Em lugar de procurar por atividades diferentes, prefiro exercer as antigas: levantei e fui esquentar a água para o chá. No celular, a música de Cannonball Adderley me dizia que a festa precisa continuar.  

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