Estou prestes a iniciar uma guerra. Buda não me abençoou com o dom a paciência. Mas, nem mesmo Sua Santidade, o Dalai
Lama, teria serenidade para suportar cinco, seis ligações diárias oferecendo
planos de telefonia e internet.
Várias vezes deixei o que estava fazendo
para atender ao telefone (fixo e celular), sempre com medo de alguma notícia
desagradável sobre o estado de saúde de minha mãe, que está com Alzheimer e
diversas outras complicações.
Tenho ciência de que a remuneração do pessoal do
telemarketing é ridícula e que eles precisam alcançar metas (provavelmente
inatingíveis) em um trabalho estressante. Sou solidário. Não desejo esse tipo
de sofrimento para o meu pior inimigo (desejo sim, mas o protocolo de convivência social exige a mentira). A questão é que não tenho calma para ouvir discurso
decorado, sem a mínima empatia entre o que é repetido ad nauseam e o que sente
o sujeito que está emitindo a mensagem. Nada pessoal, mas prefiro os robôs dos
livros e filmes de ficção científica.
As ligações acontecem nos horários mais esdrúxulos.
Várias vezes o telefone tocou depois das oito da noite. Alguém determinou que sábados,
domingos e feriados são dias propícios para oferecer internet super-rápida. O
sujeito está em casa, preocupada com a temperatura da cerveja ou com o ponto da
carne na churrasqueira, então não vai se incomodar em assinar um novo plano de
negócios, vai?
Estou convencido que isso acontece por
questões de fuso horário. Com as mudanças climáticas, o aumento do buraco na camada de ozônio,
as calotas polares derretendo e a alteração da linha do Equador, tudo ficou confuso.
Ou difuso. Sei lá. Falta aliteração para esse tipo de interpretação multiuso.
Outro dia, tentaram uma abordagem menos
engessada. A voz me perguntou se eu estava bem. Respondi com algum grunhido,
nada muito diferente da reação instintiva que esboço diante das situações que
me desagradam. Quem estava do outro lado da linha, em exercício de falsa
intimidade, queria saber se eu estava com algum problema. Será que desejava me
ajudar? Claro que não! Depois de alguma enrolação, talvez umas duas frases de
autoajuda, o golpe seria aplicado. Ou seja, o sujeito queria ser ajudado. Bastava
comprar o que ele estava vendendo.
Depois de alguns segundos de
reflexão, pensei em esticar a conversa. Talvez inventar alguma doença
contagiosa, provavelmente o Covid-19 (que está na moda), e, entre lágrimas,
descrever minunciosamente as dores que acometem o corpo que maltrato
diariamente. Desisti. Na quarentena, deve prevalecer a economia emocional.
Então, mandei a pessoa plantar batatas no asfalto com enxada de borracha. Quer
dizer, as palavras utilizadas na ocasião foram outras e não podem ser
mencionadas agora – em respeito aos valores fundamentais da família tradicional
brasileira.
Na maioria das vezes, desligo o telefone
no momento que percebo o motivo da ligação. Mas isso está ficando chato e não
resolve o problema. Um amigo me recomendou contar que estou desempregado e,
antes de qualquer reação do outro lado, perguntar: será que a empresa de
telemarketing não está contratando novos funcionários?
Parece que essa estratégia funciona e o nosso
nome desaparece instantaneamente do cadastro de futuras vítimas. Não custa
tentar. No amor e na guerra, nenhuma arma pode ser considerada excessiva (dizia
minha avó, a sábia).
Gostei da dica do desempregado.
ResponderExcluirVou tentar!
Abraço!